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Dilma acalenta a ideia do inflation target criativo

Um projeto defendido por economistas à direita e à esquerda, entre os quais dois conselheiros de Dilma Rousseff, Delfim Netto e Luiz Gonzaga Belluzzo, voltou a ser discutido pela equipe econômica do governo. A ideia é estender o prazo para o cumprimento da meta de
inflação, que deixaria de ser anual e passaria a ser medida em
três ou até em cinco anos. 
O centro da meta seria menor, 3% por exemplo, no lugar dos 4,5%
atuais. O prazo para a consecução do objetivo passaria a contar a partir deste ano. Seria como se o taxímetro do inflation target fosse zerado. Ao longo do novo intervalo de tempo, a inflação poderia subir para 7% ou 8%, constando essa elevação como parte da estratégia de ganhar tempo para domar o dragão, focando o PIB e mantendo o balanço de pagamentos sob controle.
Com a medida, o governo poderia praticar a política econômica
anticíclica sem se sentir tão ameaçado por dois a três pontos de alta de preços, saltando de banda, pelo menos por enquanto, da armadilha do pass through, inevitável com o aumento da desvalorização cambial.
A decisão que pode ser colocada no colo de Dilma é uma “Escolha de Sofia”: de um lado, a possibilidade de mudar as regras do inflation target e aceitar uma inflação acima da banda em ano eleitoral, mas com crescimento mais alto da economia (hoje, no governo, já se projeta um PIB de 2%, e no mercado se fala em 1%) e especialmente, com uma queda do real capaz de mitigar ou mesmo reverter o estrago feito na indústria e na balança comercial, não obstante o estrago no passivo dolarizado das empresas; do outro, perseguir a meta, retendo o dólar, queimando reservas, subindo os juros e dando às costas para crescimento, o que pressuporia ainda uma virilidade fiscal que mesmo nas vezes em que foi anunciada ficou na promessa.
É matusalêmica a discussão sobre o trade-off entre inflação e crescimento. Recentemente, trabalhos acadêmicos tentaram
enterrar essa “pecaminosa esquina” entre a política monetária e os preços. Mas, não faltam controvérsias. Kenneth Rogoff, de Harvard, por exemplo, acha que a inflação ainda é um mal menor. 
O Nobel Paul Krugman concorda com a opção pelo crescimento,
que pode e deve ser feita com uma taxa inflacionária
circunstancialmente mais alta. Ninguém, é claro, trabalha com
hipóteses bizarras de carestia. Por aqui, o bom e velho Delfim é taxativo: “Afirmar que a política monetária tem de considerar a taxa de crescimento do PIB é pecado apenas no mundo ‘virtual’ em que ainda vivem alguns de nossos analistas”.
Segundo o ex-ministro, a escolha da largura da banda e o prazo para o cumprimento da meta são escolhas técnicas e políticas. E quando se trata de tecnicidades, o próprio “pai do inflation target”, o ex-diretor do Banco Central, Sérgio Werlang, já se manifestou favorável ao alargamento dos prazos. 
A questão é saber até que ponto uma inflação mais alta rima com
sucesso nas urnas, já que o eleitor da presidenta é o maior
penalizado com a carestia. No Ministério da Fazenda, a medida
divide entre os que a acham uma gambiarra e os que a consideram
uma fatalidade. 
O segredo da sua maior ou menor aceitação não estaria nas simulações e contas de Mantega e seu staff. A variável chave é a
comunicação, e esta, como se sabe, não costuma a ser o setor de maior eficiência do Palácio do Planalto. De qualquer forma, seria Dilma a responsável por explicitar, com a manobra criativa, o não dito, ou seja, a economia está fugindo do controle.

 (Relatório Reservado, 08/07/13)

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