O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desacelerou na passagem de março para abril, de 0,92% para 0,67%, em razão da diminuição no ritmo de crescimento dos preços dos transportes e dos alimentos, os dois grupos que mais pesam no orçamento das famílias. A avaliação é da coordenadora de índices de preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Eulina Nunes dos Santos.
“Entre março e abril, o grupo transportes cedeu bastante, o que não aconteceu com os alimentos, que continuaram pressionando a inflação, mas num ritmo menor. Os alimentos continuam a subir”, afirmou Eulina. Na passagem de março para abril, Transportes saíram de alta de 1,38% para 0,32%. O principal impacto veio dos preços das passagens aéreas, que tiveram deflação de 1,87% em abril, ante elevação de 26,49% no mês anterior. Além das passagens aéreas, o grupo foi beneficiado pela desaceleração nos preços de combustíveis e ônibus urbanos. Depois de subir 4,17% em março, o etanol avançou 0,59% em abril. Nesse período, a gasolina passou de 0,67% para 0,43%, enquanto as tarifas de ônibus foram de alta de 0,6% para avanço de 0,24%. Já o ramo Alimentação e bebidas teve alta de 1,19% em abril, após subir 1,92% no mês anterior. O grupo contribuiu com 0,30 ponto percentual do IPCA de abril, o equivalente a 45% da taxa mensal. As principais quedas em abril entre os itens alimentícios foram apuradas pelo IBGE em mandioca (-8,58%), farinha de mandioca (-3,66%), tomate (-1,94%), cerveja (-1,09%), hortaliças e verduras (-1%), açúcar cristal (-0,82%) e farinha de trigo (-0,5%). No entanto, o preço da batata inglesa subiu entre março e abril, em 22,26%. Nessa base de comparação, o instituto apurou alta de 2,61% no frango em pedaços e de 1,83% nas carnes.
“Os preços das carnes ainda apresentam efeito da estiagem, que reduziu a pastagem. Com isso, a ração animal passou a ser o principal alimento do boi. Mas o preço da ração está em alta por causa da valorização nos preços de soja e milho [matérias-primas da ração animal]”, disse Eulina. A coordenadora do IBGE observa, aliás, que o IPCA se mantém em torno de 6% em razão do preço dos alimentos. “Isso vem acontecendo nos últimos dois anos e meio. São muitos problemas climáticos que vêm afetando os preços de alimentos”, afirmou a especialista do IBGE. Desde de 2010, o IPCA de alimentos se mantém acima de 7%. Naquele ano, os preços dos alimentos subiram 10,39%, ao passo que, em 2011, a alta foi de 7,18%. Segundo o IBGE, o IPCA de alimentos subiu 9,86% em 2012 e 8,48% em 2013. Apenas nos quatro primeiros meses deste ano, os alimentos acumularam alta de 4,58%. “Os alimentos são os que mais pesam no bolso do consumidor e isso leva a uma resistência da inflação, quando eles estão em alta”, nota Eulina.
(Valor – 09/05/2014)