A inflação em patamar acima do teto da meta inflacionária, de 6,5%, é um problema para um país com a nossa história, na análise do ex-presidente do Banco Central, Arminio Fraga. Em entrevista ao programa Espaço Aberto, da jornalista Miriam Leitão, na Globonews, ao lado do atual ministro da Fazenda, Guido Mantega, Fraga foi questionado se o atual nível inflacionário, conforme apurado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em 6,75% em 12 meses até setembro – o mais elevado patamar em quase três anos, nessa comparação – estaria em descontrole; e como enfrentar esse problema.

“Claro que não é a inflação do passado. Mas é um número que as pessoas sentem, que nos expõe a mais riscos, caso alguma coisa aconteça”, alertou, acrescentando, também, que o atual cenário conta ainda com “preços represados” – uma referência indireta aos reajustes em preços administrados autorizados pelo governo – e a taxa de câmbio. “Há uma sensação de que a inflação é 6,5%, mas poderia ser mais”, afirmou. “Não podemos correr risco nessa área [de combate à inflação]”, acrescentou. Fraga, principal assessor econômico de Aécio Neves, candidato do PSDB à Presidência da República, lembrou o histórico do país no combate à inflação, e salientou que o avanço expressivo de preços foi um problema “que massacrou o país por muitos anos”. “Quem perde sempre são os mais pobres, que têm muita dificuldade de administrar sua vida. Quem não se lembra das pessoas correndo para o supermercado?”, perguntou, fazendo uma referência indireta ao período de hiperinflação na década de 80, quando as remarcações de preços nos pontos de varejo eram frequentes. Ele afirmou ainda que o atual ambiente de inflação em alta com baixo crescimento econômico é preocupante. Fraga destacou que cenário atual espelhe uma “situação maior”. “Na verdade, o que me parece hoje diferente, e muito preocupante, é que a inflação está bastante alta e o crescimento [econômico] muito baixo. Isso é um problema”, frisou. Quando questionado como deveria ser enfrentado o avanço inflacionário, Fraga afirmou que isso requer um compromisso permanente, para não deixar a inflação sair do controle. “Como saiu [do controle], será preciso colocar a coisa no seu lugar”, afirmou.

(Valor – 09/10/2014)