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DuPont muda foco para biocombustíveis e indústria de alimentos

O grupo americano DuPont quer deixar de ser uma tradicional companhia química. A gigante avalia vender seus ativos nesse segmento e quer mudar o foco de seus negócios, com a maior diversificação de seu portfólio. Não se trata de renegar um setor que por décadas sustentou o faturamento global da multinacional, mas esse novo reposicionamento, já em discussão pelo grupo nos últimos anos, busca tornar a DuPont uma empresa voltada mais para as indústrias de alimento e bicombustíveis.
“Nós nos transformamos bastante. Não há muito tempo, éramos uma companhia química e hoje somos uma empresa de ciências da vida”, disse ao Valor Nicholas Fanandakis, vice-presidente executivo e diretor global de finanças da DuPont.
Nesta semana, durante a divulgação de resultados do segundo trimestre, a CEO global da DuPont, Ellen Kullman, confirmou que o grupo avalia alternativas estratégicas para seus negócios químicos, que podem resultar em um spin-off (separação), venda dos ativos ou outra transação ainda não definida. Esse segmento, se vendido, é estimado em cerca de US$ 10 bilhões, de acordo com especialistas de mercado. Em 2012, a receita do segmento foi de US$ 7,2 bilhões.
A decisão reflete em parte o momento delicado pelo qual o setor químico passa pelo mundo – matérias-primas a partir do gás natural tornaram-se mais competitivas nos EUA por causa do gás de xisto (“shale gas”). O processo de desmembramento começou este ano, com a venda da divisão de tintas automotivas para o grupo Carlyle por US$ 4,9 bilhões.
No ano passado, o faturamento global do grupo, incluindo todas as suas divisões de negócios, encerrou em US$ 34,8 bilhões. Das vendas totais, entre 35% e 40% têm origem nos EUA. “Nós operamos em 90 países diferentes e outros 35% das vendas têm origem de países emergentes”, afirmou o executivo, ressaltando que os países em desenvolvimento ganharam uma participação significativa no faturamento da multinacional. Em 1996, 43% da receita do grupo vinha de produtos oriundos do petróleo e apenas 7% eram oriundos da agricultura, nutrição e biotecnologia, outros 18% de materiais avançados, 17% de commodities de fibras. Em 2012, 20% da receita teve origem de pigmentos e especialidades químicas e 43% de agricultura, nutrição e biotecnologia.
O grupo tem concentrado esforços em três importantes divisões de negócios: agricultura e nutrição, que engloba sementes, defensivos agrícolas, ingredientes para indústrias de alimentos; biocombustíveis (combustíveis e bioquímicos); e materiais avançados (polímeros, plásticos de engenharia, materiais de proteção e segurança, além de energia alternativa).
“Observamos o crescimento da população e para onde a produção de alimentos caminha. As pessoas têm de comer. Olhamos esse mercado para os próximos anos. Não se pode aumentar a área plantada na mesma proporção. Então, tem que se elevar a produtividade”, afirmou Fanandakis. E a DuPont não quer abrir mão desse robusto segmento do agronegócio, que tem nos EUA e Brasil seus dois importantes e maiores mercados. O passo mais ousado do grupo para se consolidar na área de alimentos foi a aquisição da companhia dinamarquesa de ingredientes alimentares Danisco, em 2011. No ano passado, adquiriu 100% de participação que a companhia tinha na Solae, uma joint venture entre DuPont e Bunge.
Os bicombustíveis, que durante os últimos anos têm recebido pesados investimentos de grandes companhias globais, incluindo a própria DuPont, estão no radar da companhia. “A DuPont tem uma posição única global. Temos oportunidades em produzir etanol, etanol celulósico. Pode ser bagaço, milho e outras matérias-primas. Tivemos um tremendo progresso nessa área e estamos construindo uma planta comercial [nos EUA]”, disse o executivo.
O movimento de diversificação da DuPont não é um processo recente – a empresa já viveu diferentes ciclos, desde sua fundação em 1802, quando produzia pólvoras -, mas ganhou ritmo a partir do início dos anos 2000. O primeiro grande ciclo foi entre 1802 e 1850, quando estava focada no mercado de explosivos. Os segmentos de química e energia vigoraram por 90 anos, entre 1900 e 1990. Desde o ano 2000, a DuPont tem explorado outras áreas de atuação, com foco em divisões de ciências integradas, como biologia, química e ciências dos materiais.
“Queremos atuar em áreas que tragam mais valor à mesa, com crescimento consistente. Cerca de 85% do nossa pesquisa e desenvolvimento (P&D) dão suporte a essa transformação”, afirmou o vice-presidente.
Nas últimas décadas a americana se destacou por importantes lançamentos, como a borracha sintética (marca Neopreme), criou o Nylon (marca do primeiro polímero sintético bem recebido comercialmente) e o Teflon (composto de carbono e fluorina que não reage com outras substâncias, material com menor coeficiente de atrito), além da introdução da fibra de elastano (marca Lycra).
Em 1997, a companhia deu um grande passo ao adquirir a Pioneer, maior fornecedora mundial de sementes, que a colocou entre as maiores no agronegócio. Mas no início deste mês, a empresa sofreu um revés ao ter seu nome incluído na lista de empregadores flagrados mantendo trabalhadores em condições análogas às de escravidão pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). A DuPont classificou a operação como um “equívoco” e “que está tomando todas as medidas legais cabíveis para que o nome da companhia seja retirado dessa lista”.
A operação é de junho de 2010, quando o MPT e a Polícia Federal encontraram 99 trabalhadores em condições degradantes em uma fazenda administrada pela Sementes Pioneer, em Joviânia (GO). A companhia diz que firmou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) e que, “vem cumprindo com todos os dispositivos estabelecidos em tal acordo”.
(Valor, 25/07/13)

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